sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Eu não tenho medo de você

...Quero encarar meus inimigos cara a cara, fazer deles minha ultima visão. Quando uma bala de metal, ou uma seringa cheia de ar penetrar em meu corpo. Quero olhar para todos aqueles que desejavam minha morte. Não quero falar nada, quero só olhar. Meus olhos penetraram-nos e todos sentirão minha expressão vitoriosa. Por mais doloroso momento que for. Por mais sangue que tente escapar de meu corpo, estarei solene.

...Pois a morte é imortal. E só a morte traz a vida eterna. Quando falo em vida eterna não estou tentando mencionar D’us e nenhum tipo de paraíso. Isto é superficial. Falo em vida eterna neste mundo material, carnal, mesmo. Onde a matéria fica podre. Onde todos pensam nas mesmas coisas e fingem não pensar em nada. Pois tem medo de achar pessoas que pensem no que pensam e descobrirem que não são nem um pouco especiais. Pois neste mundo, se tem algo que todos querem é ser alguém especial. Este é o grande tesouro escondido em tudo. Está em todo o lugar: “Seja especial”, “sinta-se especial”, “quem é especial é você” não estou falando em síndrome alguma, falo desta mania chata, um tanto narcisista de ser alguém. Alguém especial e eterno. Falo o tempo todo de ser mencionado. E isto e somente isto que transforma esta carne corrompida em matéria imortal, pois já diziam há tempos: só se morre quando se é esquecido.

...Por esta única razão é que quero morrer como um ser humano. Quero estar sempre em minha melhor forma. Jovem para a eternidade, rápido para a eternidade, envelhecer é para as pessoas que perderam todas as suas perspectivas de mudar o mundo e encararam o fato de serem importantes para um grupo pequeno e desimportante da sociedade. Estas pessoas que se deixam alcançar pelo tempo tem medo. Medo de serem descartáveis, o que na realidade são. Todos somos, até o momento do beijo fatal. Estou esperando virem me buscar, mas tenho toda uma vida pela frente, espero, sem medo, de você. Sou imortal. Mas já morri a dias.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Um filho falecido

...“[...]Hoje o tempo mudou. Os pássaros começaram a cantar e tudo ficou bom. Era tudo o que eu mais queria dizer, mas não posso. A terrível verdade é que meu mundo caiu. Estou me sentindo cada dia pior e as pessoas pensam que está tudo normal.[...]”

...As lágrimas escorreram e ninguém falou mais nada. A mulher enxugou suas lágrimas e o ar ficou mais pesado. A chuva lá fora não parou e também não fez mais barulho algum. Todos se vestiram de preto para ouvir o discurso do início na integra, pois estas foram às últimas linhas das virtudes.

...Não consigo escrever mais nada sobre o assunto agora, pois convivi muito com o falecido. Desculpem por meu sentimentalismo, pois cai também com a leitura da carta. Eles podiam aliviar, a família poderia não deixar o violino chorando ao fundo. Um solo lindo. Espetacular, aonde as notas iam e vinham com o aro que tão leve parecia tão firme. Tudo tão certo. Ele sempre falava isto, mas enfim:

...Hoje seres indomáveis dominam a terra. Estes titãs estão acabando com as relações humanas. Mordem todos e tudo. Feridos saem milhões. Todos enganados. Parecendo todos tão certos, mas não existe mais razão. Nem, porém. Nem o mundo que deveria existir. Afinal, estamos todos errados e sabemos disto ainda que não queramos assumir. Como não assumiríamos um filho que por ventura de algum motivo iremos odiar por cinco minutos até o final da vida.

...Este nascerá como mais um filho bastardo que cairá nas ruas da amargura e cederá ao extinto. Criado por freiras que com panos e caixas diminuirão a intensidade da luz. Para que esta não o cegue, nem lhe prejudique a visão. Pois estamos muito ocupados para que tudo dê certo em nossas vidas.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Nós somos criados para isto?

...“Estive observando você. E fico feliz em lhe informar que tem todos os quesitos suficientes para ser uma excelente cobaia senhor macaco. Sim senhor, quem é o animal irracional? Quem é a cobaia fofinha? Quem? O senhor!” E assim o cientista retirou o animalzinho da gaiola. O pobre mico tremia. Tinha pouco mais de um ano de vida, quase um bebê ainda. Tremia de frio e pavor. Não reconhecia o ambiente e não fazia idéia nenhuma pelo qual tipo de experiência iria passar. Se pensasse, pensaria: “E agora? O que irá acontecer?” Mas como não pensa, não pensou. Se sentisse pensaria: “Acabou minha vida? Devolvam-me para minha família, minha mãe, meus irmãos. Quero voltar a minha vida.” Mas como não sentia e não pensava, também não sentiu nem pensou.

...Logo o mico se encontrava em uma mesinha cirúrgica. Preso por um cordãozinho que em cada uma das pontas continha um pé de mesa e um pé de macaco. Uma luz intensa incidia nos olhos esbugalhados da criaturazinha. Uma grande silhueta se aproximava amedrontadoramente. A sombra crescia e o animal diminuía. E o animal não sentia nem medo, nem pavor. Não tinha vontade de voltar a sua vida, pois fora criado exatamente para isto.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Quando você se sente sozinho

...Quando não há mais ninguém por perto, você pensa que está livre de tudo e de todos. Faz o que não faria, bebe o que não beberia. Anda mais a vontade. Pensa no que não deveria pensar. Agora procuro saber se tem algo em que não devamos pensar. Penso que não. Falar assim me soa muito redundante, mas ora, por mais obscuro que seja, nem toda a treva vem para o mal, assim como nem toda a luz vem para o bem. Não me vem à cabeça quem escreveu esta magnífica premissa, se posso assim chamar, mas afirmo que estas palavras não são minhas.

...É bonito ver a todos felizes em grupo. Mas mesmo em grupo todos sozinhos. Fechados neles mesmos. Pois ninguém é capaz de ler pensamentos e garanto que se esta pessoa existir e efetivamente ler as mentes alheias, ela não é um super herói e sim uma atormentada. Não prestem atenção no gênero, estou tratando como pessoa, tanto no masculino quanto no feminino, não quero fazer nenhuma suposição. Eu mesmo não leio mentes. E acreditem, se fosse capaz de tal feito, é exatamente nestas linhas que estaria a informação. Pois já fazem aproximados dois minutos que tomei uma dose grande de veneno para rato, confesso que estou me sentindo muito mal, mas ainda consigo escrever. Não garanto que revise esta carta, mas juro que será a única que não revisei, por ventura.

...O mais estranho são suas vontades, há dois minutos eu não pensava que poderia ser um escritor. Pois sempre gostei de escrever. Nunca vi o feito como uma carreira. Vivi sempre com um sorriso melancólico aqui em meu consultório de dentista. Por mais que gritasse por dentro, ninguém é capaz de ler sua mente. Sou até grato por isto. Pois quantas vezes você pensa em adultério com pacientes. Quantas vezes você não cede às vontades. Se pudessem ver quem sou eu.

...Por mais atormentada que fosse esta pessoa, a leitora de mentes, queria que ela existisse para me dizer quem sou eu. Esta pessoa ia falar direto nos meus olhos: “corra o mundo” ou “fique aqui, eu sei o que é melhor para você. E tudo que sempre qu.......

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Não interessa quem é você

..."Eu vou ser médico” “Eu não, serei advogado” “Eu serei um cantor muito famoso” “Eu serei filósofo” E todos riram. O garoto ficou envergonhado e escondeu embaixo da carteira os exemplares de Platão que ganhou de aniversário. Sua repulsa pelo tema começou ai. No outro dia tinha outro discurso. “Serei apresentador de televisão” E dependendo de onde se encontrava o rumo do seu futuro mudava.

...Não está certo, você deve fazer o que você gosta. Mesmo que quando fale perca todos os amigos, mesmo que quando decida ninguém queira mais saber de você. Mesmo que o que você goste é ficar com seus colegas reunidos. Não deve agradá-los apenas.

...Joel também achou estranho demais aquele discurso. E tornou: “Não quero mais ser filósofo, riu-se, quero ser astronauta” E em meio à aula de física o professor elogiou e seus colegas gostaram e uma menina em especial prestou atenção nele. Seus pais, sempre o apoiaram. Porque então era tão indeciso? Porque tão inseguro? Os outros, o que eles fazem?

...Procuraram psicólogos que direcionaram o futuro do jovem. Usando de métodos de persuasão para dar a ele o que precisava. Segurança. Ficou alegre, sorridente, acabou por ser dentista.

...Seu consultório todo pomposo. Com pacientes bons, sem muitos problemas, estava feliz. Passou o resto de seus dias em solidão com sua esposa e filhos. Ia ao consultório. Limpava a boca de pessoas comuns, tirava cáries de cantores famosos, mas nunca viu a boca de um filósofo. Pois naquela cidade, eles não existiam.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O paraíso inalcansável

...Certo dia eu estava andando calmo sob a luz do sol. Quando comecei a esquentar-me ao excesso. Tirei o agasalho que tinha. E andei mais. Parei para observar onde estava e quando me dei conta estava em lugar algum. Durante toda a manhã dei passos. Sem pensar em direção. Dei passos um após o outro e quando dei por mim novamente estava enfrentando a mesma paisagem de horas atrás.

...Não havia plano? Sempre houve um plano. Era sair de um ponto para chegar a outro. O que não houve foi análise. Quando se quer mudar, precisamos saber para onde queremos ir, para não cair no erro de chegar exatamente onde estávamos. Então pesquisei sobre os mais diversos lugares que poderia ir, cogitei aventuras, fiz uma lista. Esta lista continha tudo o que eu queria e exatamente onde encontraria tudo.

...E finalmente quando chequei a lista uma ultima vez, dei por mim que não precisava ir a lugar algum.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Idéias hipotéticas

...Foi um baque quando todos descobriram o que ela fazia. Sempre muito bem vestida. Sempre andando com novas roupas. Mas em seis meses ninguém chegou perto de adivinhar de onde vinha o dinheiro. Alguns até desconfiaram e brincaram com o tema uma vez. Sem ela escutar, é claro. Não queriam deixar ninguém constrangido com uma brincadeira aparentemente sem nenhum fundo de verdade.

...Nisto, Vitória entrou. Linda como sempre, sacudindo o cabelo, usando os óculos de grau com aros vermelhos na frente de seus olhos verdes penetrantes. Salto e saia, combinava em tudo. Até seu caminhar combinava com o lugar. Passou, como sempre passava, com a pasta preta pelo escritório, que ninguém sabia ao certo o que continha. Todos olharam e comentaram, mas desta vez os comentários masculinos não iam a elogios ao físico, nem as mulheres falavam mal do jeito dela vestir-se para se auto-elogiarem. Todos faziam comentários vazios e depreciativos.

...Loira, alta, magra. Quem imaginaria que fosse a própria autora de um dos maiores clássicos da auto-ajuda da atualidade? “Como fazer as coisas darem certo para você.”

...Ela estranhou quando, no escritório, observou exemplares de sua obra nas mesas de quase todos os funcionários. Pensou até que alguns, já sentados, estavam sorrindo para ela de um jeito novo, estranho. Muito mais estranho do que o habitual. Tudo bem, tentou controlar seus pensamentos. Sentou e abriu sua pasta, iniciou seu trabalho de sempre. Digitou em seu laptop algumas linhas do processo que tinha nas mãos.

...“Então...” Uma voz masculina quebrou o silêncio. “...Você é a famosa escritora misteriosa.” Era o chefe, com o livro nas mãos praticamente implorando por um autógrafo. Acordou. Estava ainda sentada em sua mesa e o mesmo clima de desconfiança de todos. Continuou a digitar. Por cima da tela de plasma observava flashes de imagens.

...Alguém levanta... Anda... Chega perto... Menção a qualquer palavra... Desiste... Volta... De novo... Repetição das cenas com ‘atores’ diferentes... Alguns nem chegavam a levantar-se só apanhavam o livro... e nada.

...E o dia foi transcorrendo daquela maneira. O dia todo... Assim. Vitória tinha rompantes de memória, uns que faziam paparazzi descerem do teto, todos descobrirem a verdade e uma tarde de autógrafos acontecer com milhões de fãs ali mesmo. Outro no qual ela não agüentava-se o desespero e entregava-se em gritos: “Sou eu mesmo!”. Todas as viagens tinham o mesmo desfecho praticamente. Mas nada efetivamente aconteceu.

...O sol se pondo e atitude nenhuma. Até que todos foram embora para suas casas, para terminarem de viver suas vidas com seus familiares como sempre faziam.