terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Vergonha

  1. "Você não tem vergonha na cara minha filha! Vai botar uma blusa!" O velho, que nem era tão velho assim (68 anos), estava de costas para a filha sentado lendo seu jornal. A moça alta matou o velho quando cortou sua garganta com a linha de empinar pipa revestida com cacos de vidro. A morena abaixou até a orelha grande do senhor e sussurrou: "Sua filha, não vai sair de casa hoje". Posicionou-se ao pé da escada, sacou um revolver e começou a aponta-lo a espera fria e calculista de sua futura vitima.
  2. Demora... Cinco minutos... Ou seria somente a cabeça da assassina, com tanta vontade de dar os três disparos que a noite prometia. O primeiro quando a moça ao sair do quarto e chegar a escada terminasse, despercebida, o primeiro passo para a descida. No meio do pé. Que estaria calçando salto. A vitima sentiria uma dor imensa na hora de apoiar o peso e quando estivesse jogando o peso contra o corrimão, segundos antes o segundo disparo na parte interna do cotovelo. A quantidade de sangue nos primeiros instantes seguida pela dor causariam um grande abalo psicológico, devido aos traumas de infância e ai sim, ela rola escada a baixo de vez. Já no térreo, a moça ensangüentada porém linda em seu vestido azul estaria chorando desconcertada. Talvez se perguntasse: "Por-por-qu-ê?" A mulher de maquilagem pesada e abaixa com riso sinistro e explica, com a voz doce e simpática com que a coitada merece. "Você tem algo, que não é seu. Que não pertence a você". Se ela chorar muito nesta hora a luva preta lhe aperta o maxilar com força e ela sente muita dor. De repente a luva volta a si e passa calma no rosto e até pode enxugar uma de suas lágrimas. "Você sabia que não era seu. Não chore assim querida, você iria se decepcionar mais cedo ou mais tarde mesmo. Agora pare de chorar, o socorro chega e te bota de pé de novo. Eu só vim buscar o que não é seu." A moça caída, fica sem reação, não sabe o que deve fazer então solta um riso de desespero. A ladra sobe as escadas até a metade e olha para o corpo de vestido no chão e ainda sangrando, o rosto ainda chora, ela não pode se mover. Durante a queda tinha quebrado a canela. "Mentira querida." Terceiro disparo.
  3. Em uma outra sala, com uma iluminação fortemente azul, moveis azulados com grandes telas de alta tecnologia. Encontravam-se um físico, um médico, um político, um engenheiro e nossa já apresentada mulher de negócios. "Está é a filha dele." Falou um deles. "Quando pequena bateu forte a cabeça, chegou a sair sangue. Tem fobia desde então." "Não é bom para ela desmaiar durante... Vocês sabem, o... Serviço." "Certo que não, ela já não tem este tipo de reação a alguns anos."
  4. O grupo andava pelo ambiente todos entrosados, conversando e sabendo exatamente do que cada um tratava. "O que é aquele ponto na mandíbula do raio Xis?" "Boa observadora, aquilo é aonde ela teve um pino. Para a correção da mandíbula em relação a coluna. É um ponto com dificuldade de cicatrização e muito sensível, pelo andar da carruagem, ela toma um remédio forte contra a dor. Mas como o medicamento relaxa a língua ela não usara nesta noite."
  5. Enquanto a misteriosa morena andava para fora. O medico olhava com atenção os exames feitos e chamou a atenção de todos quando percebeu. O grupo voltou-se a ele. "Ela tem um trinco, que nem pode sentir na perna, altura da canela, rolando a escada ela vai quebrar." "Algo mais?"
  6. Ao cair da noite naquele mesmo dia a mulher arrombou sem ruido a porta da frente de uma casa amarela de dois andares. Em um bom bairro daquela cidade que tinha cara de grande cidade à partir de quinta feira. Por fora a casa de madeira era muito simpatia. Mas dentro as coisas não estavam legais. Ouviu-se ali por perto dois disparos seguidos. Na verdade os vizinhos não pensaram em tiros mais em adolescentes e suas bombinhas. Manias chatas de criança. Depois de um tempo, mais um estouro.
  7. No meio da escada a assassina guardou a arma e terminou a subida. Entrou em um quarto de ex-adolescente um pouco em crise de idade. Foi diretamente ao criado mudo, levantou a luminária. "É disso que eu estava falando o tempo todo."

Um comentário:

@mahypolito disse...

lindo...assim, dá até gosto de ler. Tiro meu chapéu pra vc tavos!
bjos!